quinta-feira, 5 de maio de 2011

Hey baby, I think I wanna marry you


Casamento? Me gusta. Afinal eu sou mulher e eu gosto de mulher e mulheres gostam de casamentos. Ok, algumas mulheres não gostam de casamentos mas a maioria gosta.
Mas a questão não é gostar ou não gostar de casamento. Nem querer ou não querer casar. É poder casar. Aí a votação do STF sobre a união homoafetiva muda muito a vida de toda a população gay brasileira.
Já li e ouvi tanta bobagem sobre o assunto que fica difícil começar a comentar. E queria comentar tudo. Porque as pessoas não perdem a oportunidade de pesar a mão no absurdo.
Teve quem dissesse - união civil não é casamento. Fato. Tem tanta gente - hetero ou gay - que é casada sem ter ido ao cartório oficializar. É o famoso "juntado". É fácil reconhecer - moram juntos? A união é estável? Se as respostas forem sim, parabéns, isso é um casamento.
A outra máxima maravilhosa - casamento é quando tem a união civil e a cerimônia religiosa. W-H-A-T? É sério, já ouvi isso. Não teve igreja, não é casamento, é união civil. Proponho o seguinte - não teve batatinha no óleo e vinagre com cebola e salsinha, não é casamento. É só uma festa cara.
Tem a outra também - união civil homoafetiva não é casamento porque gays não reproduzem. Essa é pra cair o cu da bunda. Casais homossexuais podem adotar. No caso de casais de mulheres, há ainda a opção da inseminação. Existem tantas formas de família. Acho que as pessoas deviam prestar mais atenção nos adesivos de família feliz no trânsito. Casal e cachorro = família. Casal é criança = família. Casal, criança, cachorro, gato, peixe, passarinho, tartaruga = família grande e barulhenta. E mais. Tantos casais heteros não pensam em ter filhos. Eles deixam de ser uma família por isso?
O problema todo é que tem muita gente que confunde melancolia profunda com melancia na bunda. Não é porque nós, os pecadores homossexuais, queremos assinar os papéis do casório, que o padre tem de nos unir em sagrado matrimônio. União civil é um direito. É uma questão de igualdade. Afinal somos cidadãos. Pagamos contas, impostos, trabalhamos, votamos, fazemos compras e assistimos novela. Não somos diferentes de pessoas heterossexuais. Somos, talvez, um pouco mais narcisistas, pois nos apaixonamos por iguais. Mas as diferenças param aí.
O direito a união civil não obriga aos padres a nos declararem "mulher e mulher". Ou "marido e marido". Nem aos pastores, nem aos rabinos, nem aos médiuns, nem aos pais de santo, nem a nenhum líder religioso. A discussão é - somos iguais perante a lei? Sim, somos. Devemos então ser respeitados? Sim, devemos.
Homossexuais também tem fé. Não todos, mas não há unanimidade na fé entre os heterossexuais também. Existem ateus e agnósticos de todos os tipos - heteros ou gays. Mas não estamos discutindo fé. E vivemos num Estado laico e democratico. E democracia funciona quando não há distinção entre os cidadãos. E Estado laico funciona com a liberdade de religião e culto.
Então não adianta dizer, como um certo pastor recentemente desbigodado*, que a união civil homoafetiva não pode ser aprovada por ir contra as leis de Deus. Ou, como diz aquele outro deputado, a aprovação da união homafetiva é contra a moral familiar. São apenas justificativas para preconceito. Deus não tem nada a ver com isso.
Todos temos preconceitos. Se você não gosta de negros, homossexuais, gordos, magros, asiáticos, indígenas, idosos, adolescentes, mendigos, louros, morenos etc, basta não conviver com esse tipo de pessoa. É uma opção sua, ninguém pode te obrigar. O que não pode é agredir uma pessoa porque ela não te agrada. Nem incitar a agressão a uma pessoa só porque ela não te agrada.
A decisão do STF é um grande passo que o Brasil dá rumo ao chamado "primeiro mundo". E não há mais argumento contrário e preconceituoso que possa mudar isso. A esses, os preconceituosos, podemos citar Jesus - "perdoa, Pai. Eles não sabem o que falam".


* Falo do Malafaia como recentemente desbigodado porque a última vez que o vi na televisão ele ainda usava bigode. Aliás, tô sendo bem contra essa trollada que o povo tá dando nele. Tão trollando pelo motivo errado. Tinha de trollar por ele ter tirado o bigode, porque todo mundo sabe que um bigode faz toda a diferença.
Acho a conversa fiada dele bastante fiada, mas defendo o direito dele de falar a merda que quiser, contanto que ele entenda que é responsável legal pelos absurdos que fala. Acredito que ele vá chutar cachorro morto e dizer que depois da aprovação da união homoafetiva, vão aprovar a legalização das drogas, porque é bem esse tipo de argumento que ele é capaz de formular. Nem vou falar de aborto, porque sou a favor da descriminalização do aborto, mas aí já é polêmica demais pra um post só.