terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Crescer dói

O único problema entre acordar e ir dormir é o tempo que existe entre essas duas ações. Quando a gente é criança, mal vê a hora de ser grande. Na adolescência, a gente quer ser livre. Quando chegamos na fase adulta, a gente é grande e livre, mas sofre que quer ser criança de novo, não ter de se preocupar em pagar conta nem em ter de trabalhar, nem com faculdade, nem com relacionamentos que não dão certo e qualquer outra delícia da vida adulta.
Se você chegou a vida adulta e resistiu aos encantos do cartão de crédito e do cheque especial quando as coisas ficaram apertadas, parabéns, você é uma exceção. Ou pelo autocontrole, ou por ser rico e quando se é rico não existem momentos apertados, você pode ir de Havaianas para a faculdade no seu carro importado que seu pai comprou e ficar tomando cerveja no Max e acabando com o estoque da Papelaria Universitária (#ressentimentofeelings com alunos da ESPM e Belas Artes).
Acontece que na vida adulta, você passa por alguns momentos que podem ser definidos assim: quando seus pais mandam você parar de vagabundagem e procurar um emprego, quando trabalho e faculdade não conseguem coexistir, quando você precisa abrir mão de alguma coisa em prol de outra que possa ser melhor.
E funciona assim. A primeira fase é logo que você fez 18 anos, tirou a habilitação e entrou na faculdade. Seus pais dirão que você não está mais no ensino médio e esse negócio de dormir até tarde e ir pra faculdade a noite não dá, então você precisa trabalhar.
Provavelmente você não tem experiência em absolutamente nada, então vai topar qualque subemprego que te mantenha com, sei lá, 700 reais por mês, até que você consiga trocar esse subemprego por um estágio. Mas não é todo mundo que consegue trocar subemprego por estágio, então não desanime se você fizer parte daqueles que não conseguem (eu nunca consegui), você deve ser subqualificado ou arrogante demais. De toda forma, estágio também é um subemprego, mas é na sua área, então você engole sapos porque vai tirar mais frutos futuros de um estágio do que daquele emprego meia-boca no shopping (mas pode ser no telemarketing, que é o futuro de toda a nação).
A segunda fase funciona assim: você precisa manter uma certa pose na faculdade, porque todo mundo te acha bem inteligente, isso porque você ainda não passou do quarto semestre, então você se mata para conseguir trabalhar bem, manter notas acima da média da faculdade e ter vida social. É nesse momento que você assassina sua saúde.
Você passa a comer mal, dormir pouco, apagar no transporte público (se você é pobre e não tem um carro onde você pode dormir no volante e bater o carro), confundir trabalho e faculdade e invejar aquelas pessoas que moram na puta que pariu e chegam na aula mais cedo que você, aparentando estar mais tranquilas e mais dispostas que você e tendo notas melhores que você. Com isso você começa a adquirir exames, dependências e gastrite nervosa.
Na terceira fase você decide que não quer mais subemprego, não quer mais se foder na vida, nem na faculdade e começa a abrir mão de tudo. Você só quer que a faculdade acabe logo e quer ter um emprego que você goste o suficiente pra não lamentar todo dia ter de ir trabalhar e que você ganhe um salário honesto, com um VR decente pra poder almoçar todos os dias e ir comer fora nos finais de semana com sua (seu) namorada(o).
Você já chegou a conclusão que não é a pessoa mais genial do mundo, perdeu a prepotência que você tinha de discutir filosofia com seu professor livre docente (baseado em fatos reais), tudo o que você quer é ter o nome limpo, um salário que dure pelo menos 15 dias e dormir até tarde no final de semana.
Nesse momento, sua vida vira de ponta cabeça e você desconta toda sua raiva nas pessoas que estão ao seu redor. Você se afasta delas, elas se afastam de você e sua vida tá mais que na merda.
Ai todo mundo tenta te acalmar dizendo que isso vai passar, daqui a alguns anos, sem saber que você tá tão fudido que não vê um futuro tão distante. O mais distante que você consegue ver é daqui a quantas horas você vai dormir, e olhe lá.
O fato é que essa visão pessimista assombra minha vida há 4 anos, quando eu fiz 18 anos e jogaram essa bomba da adultice em mim sem eu estar pronta. Mas dizem que isso passa. ou não.

Um comentário:

Unknown disse...

me identifico com cada palavra.