terça-feira, 12 de julho de 2011

Um dia

Você é linda, sua velha rabugenta, e se eu pudesse
te dar só um presente
para o resto da sua vida, seria este.
Confiança.
Seria o presente da confiança.
Ou isso ou uma vela perfumada.


Tudo começa quando, lendo o post da Mary W, decido que preciso ler este livro pela simples genialidade da história não ser contínua. Porque tem de ser muito gênio pra decidir contar uma história de 20 anos um único dia por ano, sem continuidade.
E, num daqueles dias que o mundo pesa demais, resolvi comprá-lo. Um pouco a menos de dinheiro do que eu já não tenho não faria falta. Não podia ter feito melhor. Por que ela disse que se apaixonou por Emma Morley. Eu não. Eu sou Emma Morley, a dos 20 e poucos anos. Recém-formada com méritos, mas sem perspectiva de nada. Completamente apaixonada e não correspondida. Com a diferença que eu não me escondo atrás dos óculos - uso lentes de contato desde os 12 anos.
E não, este texto não é uma resenha do livro nem nada do tipo. É uma auto-reflexão. Talvez uma dica de leitura - muito embora o metrô esteja se encarregando bem de difundir também o livro, que já está afixado nos cartazes das estações. Talvez por que tenha virado um filme e, bem, todos adoram ler coisas que viram filmes, né? Não sei se acho isso bom porque finalmente as pessoas vão ler alguma coisa que não é auto-ajuda ou se acho ruim de chegar aos populares aquilo que eu gosto. Mas também não é esse o foco.
Esse trecho citado é de uma carta que o Dexter escreve para a Emma enquanto ela está nessa fase dos 20 e poucos anos, trabalhando no restaurante mexicano e tal, e ele está viajando pelo mundo num segundo ano sabático depois do fim da faculdade. A carta não é enviada porque ele a perde dentro de um livro no bar. Mas não é esse o gancho ainda.
E eu poderia contar as inúmeras vezes que eu já ouvi isso de alguém. Que me daria confiança se pudesse. Ou de quantas vezes eu disse isso a alguém. E não é que me falte confiança, ao contrário. Às vezes sobra. É não saber lidar.
Então ontem eu estava lendo a coluna da Eliane Brum, que eu adoro. E me vi descrita ali. Muito competente, muito habilidosa e completamente incapaz de lidar com frustração. Muito embora eu tente.
Às vezes invejo pessoas que me são muito queridas. Todas estão bem estabelecidas profissional e pessoalmente. Todas se divertem. Não existe culpa em passar o final de semana festejando, batalharam por isso a semana inteira. Enquanto eu fiz o que? Dormi? Lavei a louça? Vi dez filmes seguidos numa terça-feira?
É assim - todo mundo merece estar onde está. E eu sou a frustrada injustiçada. A pobre coitada que é tão ou mais qualificada que boa parte das pessoas que conhece, mas que nunca está por cima. Aí chego a conclusão de que o problema é bem esse - o tal excesso de confiança. E as coisas pesam. A fé balança. Fico até um tanto amargurada.
Lembro da amiga que vi semana passada, a qual eu não via há mil dias. Há quatro anos atrás ela já me dizia que, quando eu nasci, ninguém me falou que ia ser fácil. E que eu sempre respondia - mas ninguém também disse que seria tão difícil. Dizem que o tempo melhora tudo. A vida de Emma melhora um pouco nos vinte e muitos e muito nos trinta. E eu rezo. Porque não quero esperar ver passar tanto tempo.

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