quarta-feira, 14 de julho de 2010

A palavra com L


Em julho de 2005, com um ano de atraso, a Warner começou exibir uma série que fazia bastante sucesso lá fora pela Showtime. E fazia muito sucesso também pela internet, para quem tinha paciência de procurar e baixar vídeo.
Com tema adulto, tratando de homossexualidade feminina através das vidas de um grupo de amigas num café (não naquele Friends M.O., mas que circulavam pelo café) sob a ótica de uma moça que saiu da faculdade e foi morar com o namorado em West Hollywood (Los Angeles, CA), e que depois descobriu-se lésbica, a primeira temporada de The L Word (ou A palavra com L) foi, sem dúvida alguma, a melhor de toda a série.
Por que? Porque mesmo com uma Los Angeles surreal onde todo mundo é gay, a trama mostra fragmentos que estão ou estiveram presentes na realidade de toda lésbica. A curiosidade de algumas meninas hetero, que podem ou não seguir carreira, o armário, o gaydar, as crises conjugais, namoro, casamento e adoção.
E exatamente por ter explorado todos os temas nos primeiros 13 epsódios, a trama ficou meio perdida nas temporadas seguintes. Tanto que na segunda temporada nada realmente interessante acontece. A menina que outrora era a hetero entra num curso para escritores iniciantes e começa a escrever um livro com o pretensioso título de "Assim falou Sarah Schuster", com uma linha de pensamentos alucinados e lembranças desconexas, além dela se tornar completamente suicidal junkie, totalmente desnecessário para a série. Além disso o casal mais velho e de relacionamento mais sério, apesar de conturbado, tem o bebê. E o casal mais novo e mais engraçado vive um relacionamento divertido, cheio de trapalhadas.
A terceira temporada é quase um privê do Cinemax. Era sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, curiosidade ao contrário (mulher lésbica com curiosidade hetero), sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, gravidez e aborto na menopauza, sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, câncer de mama e morte por câncer de mama, sexo, sexo, sexo, sexo, sexo, ida ao Canadá pra casamento que não acontece e, por fim, sexo, sexo, sexo, sexo e sexo.
A quarta temporada é metalinguística, porque gira em torno de um livro escrito pela personagem principal, entitulado "Lez Girls", onde é retratada a vida desse grupo de mulheres homossexuais de Los Angeles. Os nomes das personagens são, inclusive, muito parecidos com os nomes das personagens "reais" da série. A única coisa diferente nessa quarta temporada é a abordagem sobre transexualidade female to male, que é bastante tabu mesmo no meio LGBT. Há também uma abordagem interessante sobre sair do armário na meia-idade e o relacionamento entre uma pessoa normal e uma deficiente auditiva.
A quinta temporada ocorre em torno da adaptação do livro "Lez Girls" para um roteiro de cinema. Também metalinguística, parada e sem novidades essa temporada. Já não tinha mais história para contar.
A sexta temporada, que começou a ser exibida pela Warner à meia-noite de hoje, é a pior de todas. Começa na morte da personagem principal e gira em torno disso durante oito epsódios, mostrando que todas as outras personagens tinham motivo para matar aquela moça insuportável.
The L Word passa longe da realidade de qualquer lésbica ou meio lésbico. Vale a pena assistir pelas belas mulheres do elenco, mas não serve para identificação de grupo.

[Não acho pertinente falar durante o post dos trocadilhos dos títulos que são sempre citados, como o L do título principal valer tanto pra Lesbian quanto pra Love e Life, e o Assim falou Sarah Schuster com o livro do Nietzsche, Assim Falou Zaratustra.]

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