sexta-feira, 18 de junho de 2010

Would you erase me?


Então é aquela coisa. Você conhece alguém de forma aleatória e esse alguém começa a crescer em você de forma inesperada. Por glória divina esse crescimento é mútuo. Vocês se apaixonam, se adoram, se amam, a vida nunca mais vai fazer sentido sem esse ser.
[Uma história no meio da história. Um dia uma mocinha, no começo de seus 19 anos resolveu engatar uma relação com uma outra moça que, na época, tinha 27 anos. Esse romance foi todo lindo e colorido por aproximadamente seis ou sete meses.]
Mas a convivência se encarrega de ir tirando pouco a pouco as maravilhosas cores que essa vida incrível com esse alguém incrível costuma(va) ter. De dias coloridos a dias pastéis, até o fim do túnel em dias totalmente cinzas. Não dá mais.
[Um dia a moça mais velha, já com seus 28 anos, disse para a mocinha mais nova que nunca tinha gostado dela. A mocinha então se rendeu à trilha sonora de Magnólia, a uma outra música chamada Rudmiments, de uma banda chamada Milburn e a ficar trancada no quarto chorando diariamente durante quase dois meses.]
O inevitável fim após o desgaste emocional machuca em lugares nunca antes explorados. A dor é tanta que dá para se perguntar se é física ou espiritual. Mas o que fazer depois do fim, apagar a memória do que foi vivido para evitar sofrimento? Mergulhar em fossa, ficar ouvindo (insira sua banda/artista de fossa preferido aqui) e lembrando só das coisas boas? Viver de trabalho/estudo para ocupar a cabeça e aos fins de semana virar aquela má influência que seus pais passaram anos te alertando que nunca prestaram?
Todo mundo já amou ou vai amar de forma absolutamente despretensiosa e intensa. E esse foi o caso de Joel e Clementine, em Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, que é um filme que tinha de ser muito bom só para compensar o título imenso. Joel e Clementine viveram todos os clichês de um relacionamento. Se apaixonaram, dividiram uma rotina, se desgastaram e sofreram um com o outro. Ou um pelo outro.
Dias antes do Dia dos Namorados, Clementine deixou Joel e apagou ele de suas memórias. Voltou a viver como se nunca o tivesse conhecido. Joel sofreu de fossa, como todo ser humano apaixonado. Quando descobriu que foi apagado das memórias de Clementine, procurou a mesma clínica e resolveu fazer o mesmo procedimento para apagá-la de sua memória.
Durante o procedimento ele se arrepende. Porque ele entende que ele não quer esquecê-la, ele quer deixar de amá-la. Então ele tenta fugir com ela em suas lembranças para outras lembranças de sua vida, para que ela nunca deixe de existir em sua memória.
A equipe da clínica, no entanto, rastreia essa fuga, e ele acaba por perder todas as memórias. Por ironia do destino, eles tornam a se conhecer no Dia dos Namorados, e tornam a ficar juntos. E descobrem então que ambos se apagaram de suas respectivas memórias.
[Passado esse período de fossa e vida malígna na vida da mocinha, as duas moças voltaram a se ver. E, aparentemente, a vida tinha ainda algumas cores quando estavam juntas. Foram ficando, e ficando, e ficando, e ficando. As cores foram sumindo e nem dava para dizer que era pouco a pouco. E uma sugava qualquer brilho que pudesse se assemelhar a cor na vida uma da outra.]
O mesmo acontece com a recepcionista da clínica, que foi quem mandou para todas as pessoas que fizeram o procedimento seus respectivos arquivos. Ela descobre que passou pelo procedimento para esquecer o médico responsável pela clínica, com quem ela teve um caso e, por quem ela era apaixonada, mesmo após o procedimento.
O elenco do filme só é salvo por Kate Winslet e Mark Ruffalo, mas a história é maravilhosa. Porque todo mundo um dia já pensou em como seria apagar alguém da memória. E o borderline do filme (a meu ver) é que as memórias não são apagáveis. Que os seres humanos têm de deixar de ser tão autopiedosos e aprender a conviver com as lembranças - boas e ruins.
[Um dia, com toda a sabedoria dos seus 21 anos, a mocinha concluiu que gosta muito da lembrança colorida do que sentiu pela outra moça um dia. Mais pela seletividade da memória, que lembra de coisas maravilhosas que ambas viveram juntas, que pelo que, de fato, se passou.]
A mágica de Brilho Eterno está aí. Nesse tapa na cara que o filme é capaz de dar nas pessoas, mesmo tendo os insuportáveis Jim Carey como protagonista e Elijah Wood e Kirsten Dunst em papéis menores. Nós precisamos aprender a viver com as mágoas e com as boas lembranças. Ainda que, vez por outra, pesem.

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